Como é ser au pair na China? Prós e contras

Eu vim compartilhar uma história incrível, mas de muita superação e bastante aprendizado. Quem vê as fotos dela na França (onde atualmente ela mora) não imagina tudo que veio antes dela chegar ali. A Lola que já compartilhou a história dela de au pair na França, agora veio compartilhar a história de como foi ser au pair na China!

A Lola já foi au pair na China e na França e as duas experiências foram completamente diferentes. Eu fiz uma mini entrevista com ela pra saber quais foram os prós e contras de cada experiência, dicas que ela tem pra dar e qual a burocracia necessária pra quem deseja viver esse tipo de intercâmbio. Nesse post, a gente vai focar em como foi a experiência de au pair na França!

ENTREVISTA FEITA COM LOLA CIRINO

O que é au pair?

Ser au pair é participar de um programa de intercâmbio cultural no qual uma pessoa, geralmente jovem (porque tem limite de idade), vive com uma família anfitriã em outro país para cuidar das crianças da casa. Em troca, a au pair recebe acomodação, alimentação, e uma remuneração semanal ou mensal (normalmente uma quantia modesta) para ajudar com suas despesas pessoais.

O termo “au pair” vem do francês e significa “em igualdade”, refletindo o fato de que a au pair deve ser considerada parte da família e não um funcionário.

Como e por quê você decidiu ser au pair? 

Decidi ser au pair em 2013, quando descobri o programa. Queria muito viajar, mas não tinha dinheiro. Por isso, comecei a pesquisar intercâmbios mais baratos e ele brotou na minha frente. Na época, tinha 18 e tinha acabado de entrar na faculdade. Por ordem dos meus pais, tive que terminar o curso antes de embarcar. Então, só coloquei o plano em prática aos 22.

Por que decidiu ser au pair na China e não nos EUA como a maioria faz?

Porque, na minha época, o intercâmbio na China era gratuito. Fui sem pagar nada de agência, passagem, estudo ou qualquer outra taxa comumente cobrada pelas agências. Como não tinha dinheiro, essa foi a melhor opção.

Como foi conviver e morar com famílias chinesas? 

A língua foi o menor dos meus problemas. A parte mais complicada era lidar com as crianças, já que tive duas famílias não convencionais. A primeira família tinha uma criança bem difícil e os horários não eram os mesmos combinados. E a segunda, tive problema com uma criança assediadora. Então, infelizmente, não tive sorte por lá.

Mas, em relação aos pais e às funcionárias das casas, sempre me dei muito bem e conversava muito com todos – fosse por mímica ou em inglês. Depois de um tempo, quando entendi melhor mandarim, me comunicava através dele também.

Eu não senti tanto choque a princípio, mas hoje percebo como era um mundo totalmente diferente. Eu adoro a cultura, aprendi muito por lá, me diverti muito descobrindo as coisas e não me arrependo.

As famílias são muito ricas, as mães gastam em coisas que eu nunca nem pensaria comprar, as comidas são maravilhosas… Eu sempre descrevo a China como um lugar muito difícil pra pretos, por conta do racismo explícito. Mas, ao mesmo tempo, é um destino que te dá algo novo todos os dias. Tenho um sentimento misto pelo país.

Como foi lidar com o racismo escancarado, gordofobia e preconceito contra LGBTs na China? 

Como eu disse, a China é um lugar explicitamente racista. É importante saber isso, porque ninguém te prepara para ver pessoas falando na sua cara que vai receber menos por ser preto ou por ser gordo. Eu passei por isso.

Acho que, indo pra lá, é importante pesquisar sobre isso e pensar se sua saúde mental aguenta essa situação. E, mais importante, se vale mesmo a pena pra você passar por isso. Eu acho que todos nós, pretos, temos sim que ocupar os lugares que queremos, temos que estar onde queremos estar.

Mas, nessa situação, acho que vale a pena pesar os benefícios do intercâmbio. Essa é uma pergunta que gordos também devem se fazer. Ouvi muitas vezes que pessoas gordas como eu não eram facilmente contratadas por serem preguiçosas.

Quanto à comunidade LGBTQIA+, encontrei várias pessoas incríveis em eventos que eles fazem. Mas, no dia a dia, tinha que voltar para o armário, porque não era bem aceito no meio que estava. As agências faziam comentários homofóbicos e chegaram a comparar homoafetivos com pedófilos. Então, caso seja LGBT+ e queira ir, não aconselho informar sua orientação sexual.

Quais são os pré-requisitos pra ser au pair na china?

Os requisitos para ser au pair na China são:

– Ter concluído o ensino médio;

– Ser maior de idade;

– Ter nível de inglês intermediário – no mínimo.

Mas, além desses requisitos, temos que pensar no processo seletivo. Já vi muitas agências negarem pessoas com trejeitos, pessoas gordas ou negros retintos. Eles dizem que é difícil achar uma família para essas pessoas.

Você quer mesmo ir? Vale a pena pra você? Pense nisso antes de embarcar nessa. Lembre-se que você pode ter que esconder quem você é.

Quais são as empresas no Brasil que ajudam ser au pair para China? 

Normalmente fazemos com agências chinesas. Não conheço uma empresa brasileira que indicaria para o processo.

Como não é um programa regulamentado na China, as agências criam suas próprias taxas, requisitos e modelos de trabalho. Portanto, você pode encontrar as que não vão cobrar a matrícula, como outras que vão.

Não recomendo ir pra lá sem agência nem com agência pequena, porque elas podem sumir no mapa. E, quando for, tenha certeza de ir como estudante, não com visto de negócios. Isso pode trazer problemas graves.

Quais são seus gastos iniciais para realizar o programa? 

Depende da agência. Algumas vão cobrar a matrícula, outras não. Além disso, você pagaria o visto, e talvez as passagens. Na China, as agências costumam reembolsar, no fim do programa, as passagens que comprou. Se você fica 3 meses, você mesmo arca com as passagens; se fica entre 6 e 9 meses, recebe o reembolso de uma passagem e, se fica 1 ano, é reembolsado pelas duas.

Existem também agências que arcam com as passagens, mas elas são mais raras atualmente.

Quais são os benefícios de ser au pair na China? 

Você trabalha entre 30 e 35 horas por semana, recebe entre 1 mil e 2 mil por mês e tem entre um e um dia e meio de folga por semana. Você também tem um curso de mandarim pago.

Na China, normalmente os au pairs têm toque de recolher, então viajar é complicado. Converse com a família sobre o assunto para ter certeza de que você vai ter a possibilidade de viajar nos seus dias livres. Geralmente, as viagens só são feitas quando termina o contrato com a família.

Dá pra fazer dinheiro sendo au pair na China?

Não. O pocket money é bem básico e, pra viajar, você vai ter que tirar dinheiro do seu bolso. Você tem um curso de mandarim pago e viaja com a família – escolha uma que gosta de colocar o pé na estrada.

Como funciona o programa e quanto tempo demora até todo processo?

O passo a passo para ser au pair na China é:

1- Encontre uma agência: Você pode procurar as páginas no Facebook ou pode usar o bom e velho Google para encontrar as agências chinesas. Diferente das do au pair nos EUA, as agências não costumam ter sede no Brasil, só na China mesmo.

2- Preencha os formulários e faça a entrevista com a agência: Os recrutadores vão enviar formulários e, depois de preenchê-los, você vai fazer uma entrevista com os funcionários da agência.

3- Receba o perfil da família: A agência vai mostrar o seu perfil para famílias em potencial e, se encontrarem uma que combine com você, eles vão enviar os formulários para que você avalie.

4- Faça a entrevista: Gostou da família? A agência vai organizar uma chamada para que vocês se conheçam. Eles vão intermediar a conversa para que vocês possam entender melhor um ao outro.

5- Aplique para o visto: A agência vai enviar todos os documentos que devem ser preenchidos e vai orientar você para solicitar o visto. O processo é tranquilo e rápido.

6- Embarque: Com o visto em mãos, agora é só embarcar.

O processo pode levar entre 1 e 6 meses. Mas, em alguns casos, pode ser mais longo. Então, vale a pena se programar.

Quais são os prós e contras de ser au pair na China? 

Os prós são o contato com o idioma – que é bem difícil de pegar quando não se está em contato com nativos – e a oportunidade de conhecer as tradições e a China. É uma experiência indescritível.

Os pontos negativos são a falta de liberdade estando com as famílias, o pocket money que não permite fazer muita coisa, a impossibilidade de viajar tanto quanto na Europa, por exemplo.

Eu indico o intercâmbio pra quem realmente sonha em conhecer a China, mas não tem outra forma de embarcar. E não indico assinar um contrato mais longo que 6 meses.

Homem pode ser au pair na China?

Sim.

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E se você não gostar da família? Tem como trocar? 

Sim, mas depende da agência, já que o match é feito pelo pessoal de lá. Então, escolha uma agência responsável.

Conta um pouco da sua rotina sendo au pair na China

Como não tinha obrigação de dar banho, preparar as crianças nem nada da rotina, passávamos o tempo brincando. Comíamos juntos, íamos aos parques, brincávamos na piscina, líamos, jogávamos. Quando estávamos juntos, era realmente pra jogar e praticar o inglês.

Minha rotina era ir ao cinema, brincar de lego, ler e nadar a maior parte dos dias.

Meu maior perrengue foram os meses com a criança abusadora. E, quanto a melhor experiência, foi conhecer o ano novo chinês e participar de todas as tradições.

Conselhos para quem tá pensando em ser au pair na China

1- Junte dinheiro para a passagem de volta – você tá duro, eu sei. Eu também estava e, por isso, fui sem um real na poupança. E, acredite, esse foi o meu maior erro. A reserva é necessária porque, se a família fizer algo inaceitável ou se a agência descomprir o combinado, você pode comprar a sua passagem e sair de lá.

2- Assine o contrato de 6 meses – você pode suportar uma situação mais ou menos por 6 meses, mas um ano é demais. Por isso, experimente os seis meses, veja se é o que você quer e, aí sim, estenda. Vai por mim, esse conselho é valioso.

3- Pesquise o programa – na minha época, nem o consulado dos Estados Unidos tinha informação sobre o programa de Au Pair na China. Mas, hoje, além desse IG vocês têm várias outras meninas falando sobre a vida por lá. Então, pesquise bem antes de escolher ir para o outro lado do mundo. Assim, você terá mais domínio para escolher melhor o destino, a agência e saber se o programa é ou não para você.

Eu sou a Lola, tenho 25 anos, sou de Belo Horizonte, Minas Gerais, e atualmente moro na França. Me formei em Comunicação Social – Jornalismo em 2017 e, assim que peguei o diploma, embarquei para a minha primeira viagem internacional que – rufem os tambores – foi pra China. Mais precisamente, Shanghai. Embarquei como au pair e, até hoje, sigo nessa maratona. Até agora foram 3 famílias e contando.

Instagram: @lolacirino 

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