
Como os influenciadores de viagem impactam a sociedade que vivemos
Como os influenciadores de viagem são responsáveis pela perspectiva de felicidade que vendem e como isso impacta diretamente na sociedade em que vivemos.Há um tempo atrás eu escrevi uma reflexão no Instagram (@vidamochileira) sobre a perspectiva de felicidade ser diferente pra cada pessoa. E eu quero estender essa reflexão pra responsabilidade que os influenciadores de viagem têm nessa questão da felicidade que é vendida online.
“Pras alguns, viver sem ter lugar fixo é status e liberdade e pra outros ter a casa própria é sinônimo de estabilidade. Uns gostam de esbanjar as coisas que acumularam e outros se orgulham das coisas que reduziram.
Pra algumas pessoas viajar é estilo de vida e pra outras é o descanso de 30 dias. Alguns sabem do valor que tem e outros precisam das curtidas pra lembrar.”
Inclusive, eu trouxe uma outra reflexão no meu blog sobre isso que escrevi acima, depois que eu fiz um detox de 4 meses do Instagram. Se você quiser ler os meus insights sobre esse período, te convido a ler o post completo aqui.
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Nesse post você vai ler:
O impacto dos influenciadores de viagem na sociedade
E, dentro desse assunto da felicidade, eu sempre me pego refletindo no quanto alguns influenciadores de viagem (não todos) têm vendido a imagem perfeita de que só é possível ser feliz se você estiver SEMPRE viajando (sendo nômade digital) e que o ideal mesmo é ser empreendedor (e esquecer o trabalho CLT).
Meu ponto aqui é trazer a reflexão de que, às vezes, o que é felicidade pra um pode ser o pesadelo pro outro. Eu, por exemplo, amo ouvir as histórias da Andrea (que é a minha sócia no podcast Se Meu Mochilão Falasse) sobre ser nômade e a liberdade que é não ter uma base pra voltar, mas eu sei que esse estilo de vida não é pra mim, porque eu sei que isso me causaria muita ansiedade.
Outro exemplo, é eu ter me jogado de cabeça na criação de conteúdo do Vida Mochileira e ter me tornado empreendedora. Não é uma jornada fácil porque existe a instabilidade de ser autônoma, os altos e baixos financeiros e, é claro, a carga de trabalho que é o dobro (ou o triplo) de quem é CLT.
E, tem gente, que não quer e nunca pensou em abrir a própria empresa e tá tudo bem. Gente que prefere bater o cartão no final do dia e se desvincular do trabalho totalmente quando chega em casa.
Eu gosto muito de viajar, mas eu amo ter a minha casa pra voltar depois das viagens. E acho que essa é a reflexão que você precisa se fazer antes de largar tudo pro alto, se demitir do seu emprego e ir buscar uma felicidade na utopia do “meu escritório é na praia”, porque sejamos sinceros: É um c* trabalhar na praia (o sol batendo na tela do celular, a areia entrando no computador… Essa fantasia nem é funcional, pra falar a verdade rsrsrsrs).
Veja bem, eu não estou dizendo que ser nômade digital é ruim! Eu acho incrível as pessoas que conseguem viver esse estilo de vida, mas também acho que é importante ser realista.
Você já se questionou sobre tudo que precisa abrir mão e das coisas negativas desse estilo de vida? Já se perguntou se o que faz as pessoas que você segue no Instagram serem felizes é a mesma coisa que te motivaria sorrir no final do dia?
Ou você tá se jogando de olhos fechados pra ver no que vai dar, porque tá todo mundo fazendo isso e, segundo os relatos de cortes que você vê no Instagram isso parece ser muito bom e as pessoas que estão mostrando parecem estar realmente felizes o tempo todo?
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A influência sobre o imaginário coletivo
Esse conteúdo, quando consumido em massa, molda o imaginário coletivo, especialmente entre jovens que estão buscando um propósito ou uma forma de escapar de vidas consideradas “comuns”.
A mensagem que se cristaliza é: “Se você não está viajando o mundo, você está perdendo a vida.”
Isso cria frustração, comparação, ansiedade e uma constante sensação de insuficiência. A felicidade vira algo que está sempre lá fora — em outro país, outro estilo de vida, outra versão de si mesmo que ainda não se tornou realidade.
Você já parou pra pensar quais são os seus valores e as suas reais necessidades? Já se questionou sobre o que te faz feliz de verdade?
As viagens são um meio de te trazer experiências que vão trazer felicidade e realização, mas existem muitos outros meios de ser feliz que não necessariamente viajando.
Eu acho sim que as viagens nos trazem muita felicidade e que viajar é uma forma de crescimento pessoal maravilhosa. Mas, o meu medo no discurso do “só é feliz quem vive viajando e não tem emprego das 9:00 as 18:00” é que ele é muito generalista e não considera as necessidades de indivíduos tão diferentes.
Assim como eu também acho que não tem como a gente dizer se gosta ou não de algo sem nunca ter tentado. Eu sei que ser nômade digital não é pra mim porque eu tentei por 3 meses quando eu morei na Tailândia e vivia ansiosa e desconfortável de não ter a minha casa, as minhas coisas, uma rotina, etc.
E eu fiz isso de forma super planejada. Eu continuei pagando o aluguel do meu apartamento na Inglaterra, enquanto eu vivia essa aventura na Tailândia pra ver se eu iria me adaptar. E, pra minha surpresa, eu não me adaptei ser nômade digital. E olha que eu tinha certeza absoluta que esse estilo de vida era pra mim justamente porque eu amo viajar.
O que eu tô tentando dizer é que se você acha que ser nômade digital é pra você, teste esse estilo de vida primeiro (de forma planejada) antes de já ir de desfazendo das suas coisas, da sua casa e se demitindo do seu trabalho.
Responsabilidade e consciência para os influenciadores de viagem
Os influenciadores de viagem têm, sim, uma parcela de responsabilidade. Isso não significa que devem parar de mostrar suas viagens, mas precisam ser mais honestos e transparentes sobre a complexidade dessa escolha de vida. Mostrar os bastidores, os sacrifícios, os momentos de vulnerabilidade — isso humaniza, aproxima e tira o peso da perfeição.
A responsabilidade está em não romantizar excessivamente algo que nem sempre é sustentável ou desejável pra todos. Porque pra algumas pessoas, o sonho de ter uma casa, estabilidade e rotina pode ser tão legítimo quanto viver de mochila nas costas.
Na minha opinião, o maior problema está no discurso que é feito e não no estilo de vida nômade em si. Porque sim, muitas pessoas são felizes sendo nômades digitais (e que bom pra elas). O problema é quando elas acreditam que essa é a única forma de viver a vida e ser feliz, desvalidando todas as outras pessoas que vivem de forma diferente.
O problema é o discurso fundamentalista (rígido) que diz que as pessoas são infelizes porque estão “vivendo errado”, porque estão “presos a uma casa” ou “presos a um trabalho CLT” e que a única forma de ser feliz e realizado de verdade é viver viajando livre sem data pra voltar. E eu não vou nem entrar no mérito dos privilégios que é preciso ter pra tomar uma decisão dessa.
A necessidade de novos discursos
Precisamos incentivar os influenciadores de viagem a abrir espaço pra narrativas diversas de felicidade: quem viaja uma vez por ano e se realiza, quem nunca saiu do seu país mas é feliz com sua comunidade, quem ama sua profissão CLT e vê valor na rotina.
Felicidade não é um destino. É um estado interno que se adapta ao contexto, às escolhas e às prioridades de cada um.
Por isso, eu crio os meus conteúdos de viagem com preocupação e responsabilidade. O Vida Mochileira é uma plataforma (Instagram, Blog e Youtube) que foi criada pra inspirar mulheres a sair da zona de conforto, ter curiosidade de explorar esse mundão, mas sem causar gatilhos.
Eu busco trazer dicas práticas de viagem e dicas de destinos pra que as pessoas possam se inspirar. Eu penso muito antes de postar pra que os meus conteúdos sejam leves e não mais um fator de comparação na internet. Ou que as pessoas acreditem que eu vivo uma vida perfeita e que esse é o segredo da felicidade.
Porque no fim, o que me faz extremamente feliz, pode ser seu maior pesadelo e o que eu estou disposta a abrir mão você não está. Então, a conclusão é que felicidade não é uma ciência exata, depende de muitos fatores e diversas variáveis.
Não importa o que você vê na internet. Crie seu próprio conceito de felicidade e use suas próprias métricas pra moldar e medir a sua vida, porque usar as métricas alheias sempre acaba por dar erro no final da conta.
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Espero que você tenha curtido esse post e que tenha te gerado também uma reflexão em cima dessa questão dos influenciadores de viagem impactarema sociedade em que vivemos.
Se você usar alguma das minhas dicas de viagem, me manda um alô no Instagram @vidamochileira.
Beijos e até a próxima.
Mary Teles