Passeio na Rocinha com um guia local
Confira como é fazer um passeio na Rocinha com um guia local. Veja como agendar o tour na Rocinha, se é seguro e o que você vai ver.Você sabia que é possível fazer um passeio na Rocinha com um guia local que também é morador?! O Gilmar Fernandes me convidou pra fazer um tour pela Rocinha e mostrar um pouco da maior favela do Brasil.
Eu já tinha feito um tour pela favela Santa Marta com um morador local e foi uma experiência muito enriquecedora entender a perspectiva, dificuldades e conquistas de quem mora lá.
Então, quando o Gilmar me convidou pra fazer o passeio na Rocinha achei uma ótima oportunidade de conhecer e aprender mais sobre uma das maiores favelas da América Latina.
Ao longo desse post eu vou responder as perguntas mais frequentes de qualquer turista que chega no Rio e quer fazer esse tipo de tour: É seguro visitar a Rocinha? Como funciona o passeio? Quanto custa esse tour?
Nesse post você vai ler:
Sobre a Rocinha
A Rocinha teve sua origem em 1930, quando era uma enorme fazenda de café. No início, suas terras foram divididas em grandes chácaras pra atividade agrícola. A partir dos anos de 1950 muitos nordestinos migraram pro Rio de Janeiro em busca de qualidade de vida e oportunidades de trabalho.
Entre 1960 e 1970 houve uma nova expansão na Rocinha, por conta da oferta de emprego a partir da construção dos túneis Rebouças e Dois Irmãos, com o objetivo de melhorar a integração da cidade.
A Rocinha fica localizada na zona sul do Rio de Janeiro e é considerada a maior favela do Brasil e uma das maiores da América Latina. Estima-se que a Rocinha possui em 2022 em torno de 25.742 domicílios e uma população de mais ou menos 220 mil habitantes (o último censo foi feito em 2010 e o IBGE divulgou que a população era de cerca de 70 mil habitantes).
A proximidade das casas de classe baixa da Rocinha com as casas de classe alta de São Conrado e Gávea marca um contraste profundo na paisagem urbana do Rio, o que é, frequentemente, citado como um símbolo explícito da desigualdade social do Brasil.
O descaso das políticas públicas do governo com a Rocinha, expresso na falta de infraestrutura da comunidade, degradação da floresta ao entorno, crescimento desordenado, falta de água, luz e saneamento básico, e acesso precário à saúde e à educação, provocou e ainda provoca muita indignação nos moradores que vivem reivindicando e lutando pelos direitos básicos de qualquer cidadão brasileiro.
Origem do nome Rocinha
As pessoas que compravam os alimentos provenientes dessas chácaras nas feiras queriam saber a origem dos alimentos e, então, os produtores diziam: “Vieram lá da minha rocinha”, que era como eles chamavam carinhosamente suas roças/lotes de terra.
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É seguro visitar a Rocinha?
Ao contrário do que muita gente pensa, visitar a Rocinha é seguro sim. O Gilmar já faz esse trabalho de levar turistas pra conhecer a Rocinha há mais desde 2018 e nunca teve nenhum problema em relação à segurança e, nós mesmos (eu e meus amigos) não sentimos qualquer tipo de medo ou insegurança em nenhum momento.
Pelo fato do Gilmar ser morador da Rocinha, ele foi nos levando pelos becos com total segurança e consciência de onde podíamos ou não entrar e sempre nos avisava onde podia e não podia filmar por conta da privacidade dos moradores.
É claro que não serei ingênua de dizer que morar na favela é um mar de rosas, pois todo mundo sabe o tráfico existe e que de vez em quando rola confronto entre facções e até mesmo com a polícia e, por isso, eu acho que é fundamental fazer o passeio na Rocinha com um guia que é morador da comunidade, que pode sentir o clima antes mesmo de você chegar e te avisar os dias que são seguros pra fazer a visita.
A mídia sempre foca no tráfico das favelas e em toda a insegurança e risco desses lugares, mas esquece de mencionar que isso é apenas 1% do que acontece dentro das comunidades. Os outros 99% são compostos de pessoas trabalhadoras, que batalham todos os dias pra ter uma vida digna.
Mas, como eu disse, o Gilmar faz esses tours na Rocinha desde 2018 e nunca teve qualquer problema em relação à segurança ou risco dos turistas que visitam a comunidade. Então, pode ir visitar a Rocinha sem medo, tá?!
Como funciona o passeio na Rocinha?
O tour dura em torno de 2 a 3 horas e começa na estação de metrô de São Conrado na Saída A, onde o Gilmar fica te esperando do lado da escada rolante (não tem erro). Depois disso, a gente caminha junto por uns 3 minutos até chegar no ponto dos mototáxis (mais de 2.000 mototáxis sobem e descem a Rocinha todos os dias).
O Gilmar acerta tudo com os mototáxis e você só precisa subir na garupa e curtir a corrida até o primeiro mirante. Durante a subida de moto, o Gilmar vai tirando fotos e fazendo vídeos dos turistas vivendo essa experiência.
A primeira parada é no Visual do Laboreaux, que é um dos lugares mais altos da Rocinha, onde é possível ter uma vista incrível da zona sul do Rio de Janeiro, principalmente dos bairros de São Conrado, Gávea e até um pedaço da Floresta da Tijuca.
Nessa primeira parada você pode fazer fotos e vídeos incríveis pra seguir pra segunda parada que é o Terraço Novo Visual e lá você tem outra vista espetacular pra Rocinha e parte da zona sul do Rio.
Nesse terraço, o Gilmar vai explicar um pouco sobre a história de formação e construção da Rocinha, vai falar sobre curiosidades e sobre a infraestrutura da comunidade (transportes, escolas, postos de saúde, etc).
Nesse terraço você encontra um bar na parte de cima e um restaurante e uma loja de souvenirs feitos por produtores locais na parte de baixo.
Depois vamos descendo a pé pelos becos enquanto o Gilmar vai contando outras curiosidades sobre a comunidade, como por exemplo, o esquema de correios e a questão da distribuição da água e luz pros moradores da Rocinha. Durante todo o passeio é possível fazer vídeos e fotos, exceto nos lugares que o Gilmar disser que não pode.
Durante a descida, a gente passou também em frente à casa do Gilmar, que nos convidou pra entrar e apresentou a família dele (nem sempre rola essa visita). A ideia é desmistificar os preconceitos em relação às pessoas que moram nas comunidades e suas condições de vida (é claro, que algumas famílias têm condições mais precárias que outras).
Esse tipo de experiência que faz você perceber que o tour do Gilmar não é um passeio voltado pra exploração da favela (como os safaris urbanos), mas sim de fato mostrar a vida dentro dela, através dela!
Depois a gente faz uma parada na quadra de futebol em que a cantora Ludmilla gravou o clipe “Rainha da Favela”. No dia do nosso tour tinham uns meninos jogando bola nessa quadra e o Gilmar perguntou se a gente queria jogar bola com eles e aí fizemos uma partida de 15 minutos que foi muito legal e a gente riu e se divertiu horrores (a gente perdeu de 3×1).
Continuamos descendo a pé pelos becos até chegar na primeira igreja da Rocinha, que foi uma das primeiras construções da comunidade nos anos de 1930. Ali tem uma pintura na parede lindíssima fazendo uma sátira à pintura “A Última Ceia” de Leonardo Da Vinci.
Depois andamos mais um pouco e passamos pelo camelódromo da Rocinha onde tem várias barraquinhas vendendo de tudo: de roupas à eletrônicos. Tem também algumas barracas de comida e doce.
E pra concluir o passeio na Rocinha, a gente vai até a passarela da Rocinha que fica na avenida principal (Autoestrada Engenheiro Fernando Mac Dowell) e foi projeta pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Ali o Gilmar explica mais algumas coisas e curiosidades da Rocinha e então caminhamos juntos até o metrô pra ir embora.
Geralmente o passeio é um tour privado pra poucas pessoas (no nosso caso éramos cinco), mas dependendo da situação, o Gilmar abre exceções em relação à quantidade de pessoas.
Quanto custa o passeio na Rocinha e como agendar?
Como eu mencionei, o tour dura em torno de 2 a 3 horas e custa R$135 (dependendo da quantidade de pessoas e se falar que é seguidor do Vida Mochileira pode ser que role um desconto). Os tours podem ser de manhã ou à tarde conforme disponibilidade de agenda.
Você pode agendar seu passeio na Rocinha pelo Instagram ou Whatsapp:
Instagram: @gilmarjuniorfernandes
Whatsapp: (21) 99684-2632
Quais são as paradas do passeio na Rocinha?
– Visual do Laboreaux
– Terraço Novo Visual
– Becos da Rocinha
– Laje da Rocinha
– Quadra de futebol do clipe “Rainha da Favela” da cantora Ludmilla (aberta à tarde)
– Primeira igreja da Rocinha
– Camelódromo da Rocinha
– Passarela da Rocinha
O que está incluído no valor do tour na Rocinha?
– Guia local (Gilmar conta todas as histórias e curiosidades da Rocinha)
– A subida de mototáxi
– Mirantes/lajes
O que levar pro passeio na Rocinha?
– Roupas leves e sapatos confortáveis
– Protetor solar
– Óculos de Sol
– Dependendo do tempo, vale levar um casaquinho (no dia que a gente foi tava ventando bastante e lá em cima tava bem fresquinho)
Como chegar na Rocinha pra fazer o tour?
O Gilmar sempre marca com os turistas na Saída A da estação de metrô de São Conrado. É só você subir a escada rolante que ele vai estar te esperando ali do lado (não tem erro).
Quem é o guia local no tour da Rocinha?
Gilmar Fernandes é nascido, criado e ainda mora na Rocinha. Ele faz esses tours há mais de 4 anos com o intuito de mostrar o outro lado da favela que a mídia não mostra.
Ele faz esses tours em português, inglês e espanhol e procura fazer um passeio bem personalizado, com grupos pequenos justamente pra ter interação das pessoas com a comunidade de forma real e não ser só mais uma agência de safari pelas favelas (que ele mesmo condena).
Gilmar tem uma visão clara do que busca como guia na Rocinha, ele quer mostrar onde cresceu e desmistificar os preconceitos em relação às pessoas que moram na favela.
Por isso, ele estuda muito pra trazer a história da Rocinha de forma didática, com curiosidades e verdades da comunidade (já que tem umas coisas que a mídia inventa) e, é claro, a interação real e próxima dos turistas com os moradores.
Por que fazer o passeio na Rocinha?
Nas palavras do próprio Gilmar Fernandes:
“A forma como as favelas nasceram e foram construídas chama muito a atenção das pessoas, mas o principal ponto é a questão de conhecer e aprender sobre a cultura particular das favelas.
Então, a ideia do tour na Rocinha é mostrar pras pessoas (que veem de fora), que apesar das favelas serem lugares peculiares, tem muita gente trabalhadora e do bem, que mesmo em meio à muitas dificuldades e condições precárias por conta do descaso do governo ainda sim batalham todos os dias pra ter uma vida digna.
O passeio na Rocinha vai mostrar também o lado que a mídia não mostra. É uma experiência pra aprender e mudar sua perspectiva em relação às favelas que tem sua própria cultura e pessoas receptivas.”
Como foi a minha experiência de visitar a Rocinha?
Eu realmente gostei muito da experiência de conhecer a Rocinha com um morador local, principalmente pela questão das curiosidades e história da comunidade e, é claro, pra aprender sobre a cultura e formular uma nova visão sobre as favelas.
Eu jamais quero romantizar a vida na favela. A ideia do passeio na Rocinha é de fato desmistificar que a favela é só lugar de bandido e isso ficou evidente quando fomos caminhando pelas ruas e becos da comunidade.
Em nenhum momento quero dar a impressão de que a vida na favela é só alegria (muitas pessoas acham que é um benefício eles não pagarem por água e luz, mas na verdade isso acontece por causa da ausência do governo nas políticas públicas).
Eu sei que a vida na favela é difícil, que as condições de muitas pessoas são precárias e que muita gente morre quando tem tiroteio ou invasão da polícia. Isso a mídia sempre mostra. Por isso, gostei de ver outros pontos através do tour do Gilmar (como o conceito de comunidade na prática).
Eu gostei muito do tour e recomendo demais. Achei importante ter essa experiência pra entender esses contrastes que muitas vezes a gente estuda de longe, mas tem medo de ver de perto. E, além disso, foi muito importante fazer o tour pra entender os nossos privilégios.
Mas, a experiência não acaba quando o tour termina. São realidades e reflexões que você vai digerindo aos poucos e novos aprendizados vão se construindo depois.
Bom, eu espero que você tenha gostado desse post e se você conhece alguém que vai visitar o Rio ou que gostaria de fazer o passeio na Rocinha, envia o link desse post pra essa pessoa e recomenda o Gilmar Fernandes que é maravilhoso!
Beijos e até a próxima.
Mary Teles