Padrões de beleza que nos limitam x autoaceitação
Se o mais bonito na nossa sociedade são as nossas diferenças, porque nos fazem querer parecer todas iguais? É nessa busca por um “pertencimento” mascarado (padrões de beleza) que está o perigo da não aceitação de si mesma e os preconceitos em todas as suas formas.Eu sei que esse é um blog de viagem, mas eu não posso deixar de falar sobre um assunto que é presente na vida de muitas mulheres: Esse sentimento de inadequação vindo dos padrões de beleza que são impostos para nos limitar e criar uma falsa sensação de pertencimento quando na verdade só causam mais solidão nas nossas dores individuais.
Falar sobre padrões de beleza sendo uma mulher branca, de cabelo liso, magra, hetero e de classe média dentro do contexto da sociedade brasileira (ou até mesmo mundial) pode parecer sem fundamento ou até mesmo hipocrisia, mas eu tenho a minha opinião sobre o assunto e acho que pode ser uma reflexão interessante.
Eu nunca vou saber o que mulheres gordas ou negras ou indígenas ou trans ou LGTB+ sofrem porque a minha perspectiva vem de outro lugar de fala. Mas, como mulher branca e magra eu quero criticar os padrões de beleza impostos pela sociedade, porque é justamente fazendo parte deles que eu posso dizer que eles não trazem felicidade.
Em 2018 eu morei por 3 meses na Tailândia e o objetivo da viagem era tirar a certificação de Divemaster para trabalhar como mergulhadora pelo mundo. Como a gente tinha apenas 3 meses pra ir do básico ao avançado, a nossa rotina era bem intensa e muito corrida.
A gente além de estudar a parte teórica do mergulho também precisava fazer a parte prática que envolvia 4 mergulhos por dia e vendas na loja. Acordávamos às 6:00 da manhã e só voltávamos pra casa às 22:00 da noite depois de fechar a loja e preparar as bolsas de mergulho dos clientes do dia seguinte.
A rotina pesada de mergulhadora junto com as comidas apimentadas tailandesas que eu não conseguia comer direito me fizeram perder 6Kg em 1 mês. Eu que já sou muito magra de natureza, sequei tanto que dava pra ver os ossos das minhas costas, costelas e saboneteiras de forma muito sobressalente.
Perdi barriga, peito, bunda e também a autoestima. Não gostava de me ver no espelho, me achava feia, mesmo atingindo todos os padrões possíveis de beleza que a sociedade impõe. Eu tinha zero gordura e uma barriga tanquinho, mas não conseguia me reconhecer.
Apesar de ser magra a minha vida toda eu não acredito que magreza é sinônimo de beleza – como a gente aprende ao longo da vida. E não é pelo fato de eu ser magra que eu não posso ter opinião sobre o assunto, porque a minha vida inteira eu sofri com piadinhas que me machucaram também e de certa forma influenciaram a minha personalidade, como eu sei que influenciam as mulheres gordas, negras, trans, LGBT+…
Não tem quem ganhe nessa briga por padrões de beleza, porque a sociedade tá sempre inventando uma forma de te mostrar que você não é perfeita do jeito que é. Precisa mudar isso ou aquilo, fazer cirurgias, mudar o jeito de se vestir, andar, amar… Basicamente mudar o seu jeito de existir. E isso não é viver, né?
Se o mais bonito na nossa sociedade são as nossas diferenças, porque nos fazem querer parecer todas iguais? É nessa busca por um “pertencimento” mascarado que está o perigo da não aceitação de si mesma e os preconceitos em todas as suas formas (racismo, xenofobia, sexualidade…).
Precisamos parar de buscar padrões, porque eles cansam – e não são garantia de felicidade! Em vez de buscar fazer parte do que nos limita deveríamos explorar mais a nossa individualidade que é o que nos difere e nos torna únicas. Quanto mais certa você está de quem é você sem os padrões limitantes, mas alto serão os seus voos e mais longe você chegará.
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“Estar abaixo ou acima do peso” é relativo de pessoa pra pessoa. Toda vez que alguém me falava que eu estava muito magra, ou mandava mensagem perguntando se eu estava doente me fazia me sentir pior ainda. Eu sabia que estava magra e não precisava ser lembrada toda hora sobre isso.
Sem contar as pessoas que falavam que eu estava linda por estar super magra sem gordura nenhuma, e a única coisa que eu via no espelho eram duas saboneteiras enormes e uma caveira ambulante.
Nos dois casos (julgamento/preocupação e elogio), a única coisa que ambos os comentários me proporcionavam era um sentimento horrível de autoestima baixa e ansiedade. Entenda, que a nossa opinião sobre as pessoas pode machucar em vez de ajudar (mesmo que a intenção seja fazer o bem)!
A autoestima é uma avaliação subjetiva que a gente faz de si mesmo. Ao meu ver a autoestima está relacionada à nossa autoimagem, comportamento, crenças, emoções e consequentemente à nossa autoconfiança.
Eu acredito sim que a gente precisa construir a nossa autoconfiança de dentro pra fora justamente pra não ficar refém dos elogios, reconhecimento e permissões alheias. Mas, eu também preciso dizer que é muito difícil manter todos os pratinhos equilibrados quando a gente não tá feliz com o que vê no espelho, né?
E por que não estamos felizes? Porque não nos encaixamos dentro do que a sociedade considera bonito? E se não fossem as opiniões dos outros, você se sentiria feliz com o que vê no espelho?
Eu sei que a teoria é mil vezes mais fácil que a prática, e eu também tenho meus altos e baixos em relações aos padrões de beleza. Sou magra, mas recentemente tive um surto de espinhas que deixou o meu rosto todo marcado. Sofri, chorei, não quis sair de casa, não quis aparecer nos stories…
A construção da minha autoestima estava totalmente pautada no que os outros iriam falar, pensar ou julgar até que precisei ressignificar o que é beleza pra mim. Confesso que fazer terapia ajudou – eu não abro mão desse autocuidado comigo, tenho as minhas sessões desde 2019.
O que quero trazer nessa reflexão é a questão de que o foco da nossa sociedade tem sido tanto no estereótipo de beleza eurocentrado, que muitas vezes a saúde fica em segundo, terceiro ou até último lugar. Estamos tão preocupados em pertencer que deixamos pra depois o que realmente importa: SAÚDE!
Sem saúde não temos vida e sem vida não temos histórias pra contar. Não importa se você é magra ou gorda, tem a pele lisinha ou cheia de marcas, o que importa é se você está bem e a sua saúde está em dia.
Eu, por exemplo, só fui saber que tinha desenvolvido intolerância à lactose por causa das espinhas que apareceram. Parei de tratar só os sintomas e fui descobrir as causas que eram várias, mas principalmente: estresse, uso de máscara sintética (por causa do COVID) e consumo de leites e derivados.
A gente só dá valor pro que tem quando perde. Não é assim que fala o ditado? E é exatamente isso que acontece quando o foco é a beleza sem a preservação da nossa saúde.
A vida é sua, o corpo é seu e a caminhada será sua, então trate de estar feliz consigo mesma. Esqueça os padrões. Foque em você. O que te faz feliz de verdade? O que você ama em você quando se vê no espelho? Quem é você sem os padrões limitantes da sociedade?
Cuide do bem mais poderoso que você tem: sua saúde. Você é a única pessoa que pode julgar o seu corpo, porque é você quem o carrega pra cima e pra baixo. Ressignifique o que é beleza pra você e seja gentil consigo mesma.
Porque a forma como a gente se enxerga tem tudo a ver com a forma como nos mostramos ao mundo. Se você se sente bonita, autoconfiante e segura de si, é isso que você vai transparecer pras pessoas ao seu redor, não importa quantos quilos a balança esteja apontando.
E lembre-se, a gente não precisa ter opinião pra tudo e não precisamos compartilhar a nossa opinião de tudo. Podemos ter uma opinião sobre alguma coisa e guardar pra gente! Às vezes, um elogio ou uma pergunta mal elaborada ou uma crítica sem solução fazem um mal enorme pra pessoa que tá recebendo – e muitas vezes ninguém nem pede a nossa opinião, mas a gente quer dar mesmo assim!
Então, eu aprendi que se a opinião é minha e ninguém me pediu, eu guardo ela pra mim. Melhor ficar calada do que às vezes comentar algo que vai trazer malefícios pra quem tá ouvindo. A gente nunca sabe o que a outra pessoa tá vivendo ou enfrentando e não sabemos como o nosso comentário (sem ter sido pedido) pode ser recebido ou processado!
Não estou aqui fazendo apologia à obesidade ou anorexia. Acredito que ambos os casos são condições/doenças que precisam de cuidados e tratamento médico porque podem ser fatais. O meu foco é trazer essa reflexão de autoaceitação e empatia que tanto falta na sociedade em que vivemos.
Espero que esse post tenha sido útil e se você conhece alguma mulher que precisa ler isso, compartilha o link com ela!
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Beijos
Mary