Como é tirar um ano sabático: Aprendizados e desafios
Descubra através do relato de duas brasileiras quais são os aprendizados e os desafios de tirar um ano sabático pra viajar pelo mundo.Com a disseminação do estilo de vida dos nômades digitais, o conceito do ano sabático acaba por ficar um pouco defasado, mas muitas pessoas ainda praticam o famoso “Gap Year” como é conhecido na gringa.
Eu entrevistei duas brasileiras (a Dani e a Mari) que tiraram um ano sabático e vão contar um pouco mais como foi essa experiência e todos os aprendizados e desafios que enfrentaram.
Nesse post você vai ler:
- Como surgiu a ideia de fazer um ano sabático?
- Como é a questão de largar tudo ou parar toda sua vida pra viajar?
- Quanto tempo vocês levaram pra planejar o roteiro e a questão financeira pra fazer o sabático?
- O que incluir no planejamento de quem está indo fazer um ano sabático?
- Como faz com a questão dos voos e transportes e hotéis?
- Como se organizar em relação aos vistos?
- Como vocês se sustentavam ou faziam dinheiro durante o sabático?
- Como vocês levaram o dinheiro pra essa viagem de longa duração (dicas de bancos e cartões)?
- Quanto mais ou menos custou o sabático de vocês?
- Vocês têm alguma dica de segurança durante a viagem, principalmente pra mulheres?
Como surgiu a ideia de fazer um ano sabático?
Dani: Quando eu tinha 14 anos fiz a minha primeira viagem internacional e ali ficou decretado que meu sonho era conhecer todos os países do mundo. Então de uma maneira ou de outra essa ideia sempre rondou minha cabeça.
O tempo passou e eu me vi trabalhando em uma empresa incrível em que eu era apaixonada pelo meu trabalho e equipe, com isso consegui juntar dinheiro após 6 anos de trabalho, mas nao sabia ao certo pra que.
Na virada daquele ano eu decidi que precisava dar um passo adiante na vida e comecei a pensar a comprar um apartamento mais próximo do escritório e sair de casa. Mas eu simplesmente sentia nada ao pensar isso, nenhuma excitação.
Logo em seguida conheci uma pessoa que havia feito uma viagem de 3 meses pela Ásia e foi ali que ele regou aquela semente que eu já havia plantando aos meus 14 anos.
Estava decidido, eu iria usar aquele dinheiro para viajar o mundo! Dei 1 ano de aviso prévio ao meu chefe que me apoiou demais e 12 meses depois estava embarcando com passagem de ida para Moçambique, onde passei 6 meses acampando pela África.
Qual a diferença de um sabático pra uma viagem longa?
Nós costumamos dizer que um sabático não precisa ser 1 ano, pode ser 1 mês, 3 meses, 12, 24 ou até mesmo pra sempre, levando uma vida sabática.
O dicionário diz que um período sabático é quando o indivíduo tira um tempo para focar em assuntos pessoais; poderia ser escrever um livro, ficar com a família, cuidar da saúde, ou então até mesmo viajar.
Sendo assim, um período sabático na estrada nada mais é que a sua vida que você ja leva normalmente, porém viajando. Acho que a grande diferença para uma viagem longa ou estilo mochilão é o ritmo.
No sabático você não tem pressa e tem muita flexibilidade, vai ter dias que você não vai querer fazer nada, talvez até semanas. Já no mochilão, um dia não viajado é um dia perdido e o viajante volta mais cansado do que quando foi. Não tem melhor ou pior, são 2 tipos de viagens diferentes.
Como é a questão de largar tudo ou parar toda sua vida pra viajar?
Como se reposicionar no mercado depois da viagem?
É preciso ter um plano pra quando voltar ou deixa acontecer naturalmente?
Não acreditamos em largar tudo pra trás, acreditamos em abraçar tudo pela frente. O mundo é vasto e cheio de possibilidades, se dar um momento como esse é um verdadeiro presente.
Sobre a volta… Dizemos que o medo nada mais é que falta de informação e o que deixamos muito claro também é que o medo que a pessoa sente com a cabeça de agora não será o medo que sentirá com a cabeça pós sabático. Essa viagem muda nossas prioridades então é complicado pensar no futuro com a cabeça do presente.
Sobre se reposicionar… Se essa é a vontade da pessoa ela pode sim começar a traçar um plano quando a viagem estiver chegando ao fim, mas a gente sugere que a pessoa volte, chegue com calma, curta a família e amigos e dê o merecido final para a viagem sem muita afobação. E depois que as coisas acentuarem, talvez 1 mês ou 2, daí começar a procurar o reposicionamento.
Por isso é bom voltar pra casa com uma reserva de dinheiro. Lembrando que essa experiência é muito bem vista no CV hoje em dia e as empresas enaltecem a coragem de colaboradores assim.
É possível incluir muitas experiências como cursos, voluntariados, trabalhos pagos e não pagos, aprendizados, novas línguas etc no curriculum, tudo depende do que o viajante quer. Conheço gente que voltou antes porque já arrumou emprego e conheço gente que assentou a carteira de trabalho.
Vocês acham que um sabático pode melhorar o currículo?
Temos certeza disso! Esse é o melhor investimento e uma baita adição pro CV. A pessoa se torna mais criativa, resiliente, se vira com poucos recursos, sabe trabalhar em grupo melhor e tudo isso são requisitos visados pelas empresas.
Pessoas que pensam fora da caixa e trazem esse ar novo serão consideradas bons candidatos. E existe muita opção para melhorar o currículo enquanto viaja, a pessoa pode fazer um curso, aprender nova língua, uma nova skill, fazer trabalhos voluntários, horas comunitárias, se envolver em projetos sociais, muitas opções que vão rechear esse currículo!
Quanto tempo vocês levaram pra planejar o roteiro e a questão financeira pra fazer o sabático?
Dani: Eu levei exatamente 12 meses, que foram os 12 meses de aviso prévio que dei na empresa. Mas levei esse tempo porque tinha esse tempo, se eu tivesse apenas 6 meses o teria feito da mesma maneira. Acho que uma média bacana pra planejar tudo (é MUITA coisa) são uns 6 meses mesmo.
Quanto tempo durou o sabático de vocês e por quantos países vocês passaram?
Dani: 2 anos = já passei por 65 países, mas alguns foram antes e depois do sabático, ao certo no sabático não sei dizer, deve ter sido uns 40.
O que incluir no planejamento de quem está indo fazer um ano sabático?
É bacana bom deixar o roteiro solto ou planejar tudo?
Acho que precisa de um mix. É muito necessário ter um norte e saber os principais pontos que você quer passar, principalmente quando se trata de datas festivas ou comemorações que acontecem em determinada época e você não pode perder.
Ou até mesmo planejar de acordo com o clima, ninguém quer pegar alto inverno europeu ou monções na Índia. Mas, o dia a dia sempre acaba ficando solto, pois é muito necessário deixar espaço para o universo se manifestar e te surpreender, se você tiver 100% planejado qual a graça?
Como faz com a questão dos voos e transportes e hotéis?
Vai marcando por demanda ou já reserva com antecedência?
Novamente, um mix. Se você estiver em algum local com alta temporada ou talvez um evento na cidade ou se a cidade for super pequena vale a pena reservar com antecedência para nao correr risco.
No mais, você pode ir viajando e reservando com 1 semana de folga mais ou menos. Ou até chegar em uma cidade e caminhar para encontrar um local também pode funcionar pois você encontra preços melhores no balcão quando conversa olho no olho e pede um desconto. Estadias longas então, ai sim é melhor negociar pessoalmente.
Como se organizar em relação aos vistos?
Ambas temos passaporte europeu então isso ajudou demais. Porém o passaporte brasileiro dá acesso a meio mundo sem necessidade de visto ou com no máximo um e-visa ou visto on arrival. Tendo um passaporte válido o céu é o limite.
Como vocês se sustentavam ou faziam dinheiro durante o sabático?
Vocês conseguiram fazer uns bicos? Quais?
Minha ideia não era trabalhar e sim viajar. Por isso juntei dinheiro suficiente e me planejei financeiramente para não ter necessidade de trabalhar, a não ser que fosse por experiência mesmo.
Eu gostaria de ter trabalhado na Austrália como parte da viagem mas acabei não indo pra lá. Mas, pra quem não acha que tem a grana suficiente existem várias maneiras de baixar o custo da viagem, chegando até mesmo a zero eu diria ou então de ganhar um dinheirinho aqui e ali.
Como vocês levaram o dinheiro pra essa viagem de longa duração (dicas de bancos e cartões)?
Tiveram algum perrengue em relação a dinheiro?
Ambas usamos um banco internacional que nos deu muita flexibilidade em relação ao IOF que não foi pago. Mas mesmo assim a Revolut e a Wise foram amigos próximos e recomendamos para quem quer fazer uma viagem assim.
Meu perrengue maior foi ter meu cartão clonado, mas rapidamente o banco percebeu e já bloqueou e me enviou outro. Além disso, me roubaram 444USD da mochila pois deixei tudo junto. Mas, depois dessa aprendi a separar o dinheiro em cash em diferentes partes da mala.
Qual foi o maior perrengue dos sabáticos de vocês?
Dani: O meu certamente foi um acampamento totalmente descampado onde fui parar em algum lugar entre Tanzânia e Botswana.
Eu estava extremamente cansada, não tinha nem água quanto menos chuveiro. O banheiro era um buraco no chão com madeira ao redor com um cheiro horrível e usar a moita era mil vezes mais limpo.
Começou a chover, estava frio, a grama era muito alta para a barraca e eu estava molhada toda torta sem conseguir dormir estressada e fedida haha foi um pesadelo que veio de diversas coisinhas dando errado e no fim do dia ter que lidar com aquilo se tornou um perrengue nada chique.
Quanto mais ou menos custou o sabático de vocês?
Quanto tempo vocês passavam em cada lugar mais ou menos?
Passava +- 15 dias em cada lugar, mas teve locais como Tailândia que cheguei a ficar 3 meses, Bali 2 meses, Índia quase 2 meses.
Quanto mais tempo você fica no lugar mais econômico seu budget diário será. Os gastos mensais variam muito pois se estivermos falando de Europa esse valor facilmente chega a 1000 euros por mês, já na Ásia com 250 d[olares é possível viver bem.
Por isso, o planejamento financeiro de budget diário e verbas determinadas é muito importante. Um erro desses pode causar o fim da viagem e a pessoa voltar pra casa antes. Algum viajantes gastam 20usd por dia outros 50usd, tudo depende do tipo de viagem, local que voce está e pessoa que voce é.
Precisa falar inglês pra tirar um ano sabático?
Quanto melhor a pessoa falar, mais fácil será, mas não significa que sem inglês ou no inglês básico não dê pra se virar bem.
Acho que será inevitável aprender inglês enquanto a pessoa viaja, mas se estiver muito insegura em relação a isso pode começar com aulas antes mesmo de embarcar ou então iniciar a viagem por uma destino que tenha o inglês como língua nacional para praticar, talvez fazer um intercâmbio.
Algumas pessoas viajam apenas para América Latina pois se viram melhor no espanhol, é uma opção também. Saber inglês pode te livrar de situações chatas e, às vezes, te salvar de alguns perrengues ou problemas, realmente é útil e faz diferença.
Mas, lembre-se que tirando os países que oficialmente falam inglês, qualquer outro país será a segunda língua da pessoa, logo também não será perfeito e você poderá se comunicar de igual pra igual.
Vocês têm alguma dica de segurança durante a viagem, principalmente pra mulheres?
Dicas que já daria para qualquer mulher: Não ande na rua sozinha à noite em lugares que você não conhece, não fale com estranhos que pareçam muito estranhos – muito menos passar suas informações como nome e hostel que está ficando.
Leve sempre cadeados e um cabo de aço para amarrar suas coisas e respeite os costumes do país que você estiver. Viajar não é perigoso, sinto em dizer que me sinto mais insegura em São Paulo do que em 100% das cidades que passei na viagem.
Durante esse período do sabático, vocês chegaram a pegar carona? Como foi?
Dani: Peguei carona poucas vezes em trajetos curtos. Alguns lugares é bem comum as pessoas oferecerem carona e não tem problema.
Mas, é sempre bom rever o histórico de caronas do país para ter certeza do que você esta fazendo e quem sabe deixar avisado as pessoas que voce está indo de A para B como fulano de tal do carro xyz.
Como era a mala de vocês? Quantos litros e peso?
Dani: No primeiro ano eu fui de mochilão 80L da Quechua e no segundo ano (e até hoje) eu uso uma mala da Osprey de 60L que é minha queridinha.
Nenhuma delas chegou a 20Kg. Aliás, eu acho que a mala ideal deve pesar no máximo 14kg se a pessoa for despachar.
E pras pessoas que tão na dúvida: Faculdade X Sabático? Carreira X Sabático?
Cada um tem o seu momento e sabe de si. Uma coisa não impede a outra. Eu iniciei meu sabático com 26 anos e foi uma experiência incrível, se eu tivesse 18 talvez não teria absorvido tanto os aprendizados nem dado o devido valor para as pessoas que cruzaram meu caminho.
E certamente quando eu tirar outro daqui alguns anos será outro olhar. Eu aconselho a pessoa se planejar e não necessariamente escolher um ou outro, apenas escolher qual vem antes qual vem depois, mas de fato realizar a viagem quando for o melhor momento.
Algum conselho pra galera que quer se aventurar pelo mundo, tirando um ano sabático, como vocês?
Comece a se planejar e a juntar dinheiro, mesmo se você não souber pra onde quer ir ou quando. Assim, quando a decisão chegar, você ja estará mais preparado e terá clareza da decisão. Se esse é seu sonho, simplesmente FAÇA!
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Danielle Ventura
Formada em Gestão de Negócios, 30 anos, nasceu em São Paulo, mas foi criada pelo mundo. Após 6 anos em uma carreira corporativa resolveu seguir o chamado interno para viver com mais emoção.
Visitou 65 países entre diversas viagens, sendo a principal 2 anos sabáticos pelo mundo. Aventureira, incansável, de espírito livre e mente criativa. Acredita que viajar é a melhor maneira de experienciar a vida e hoje transformou a paixão em um mix de propósito com vocação.
Segue viajando e trabalhando ao mesmo tempo. @adaniventura
Mariana Scaff
Formada em Administração, resolveu abdicar do estilo de vida do mundo corporativo para viajar o mundo. Hoje, depois de ter passado um ano na estrada, conhecendo 42 países, tem o sonho de motivar e inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo.
Atua como consultora e mentora de viagem, ajudando pessoas a seguir esse mesmo sonho de conhecer o mundo.