A crise na Venezuela e sua parte nesse cenário
RELATO ESCRITO POR REFÚGIO 343
Pela primeira vez na história da humanidade, o número de pessoas forçadas a deixar seus países de origem ultrapassou 1% da população mundial. São cerca de 79,5 milhões de seres humanos que por conta de catástrofes naturais, guerras, perseguições e/ou conflitos políticos e econômicos já não podem estar em suas casas, junto de suas famílias.
68% dessas pessoas imigrantes e refugiadas nasceram em apenas 5 países: respectivamente, Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Mianmar.
Enquanto na Síria temos 6,6 milhões de refugiados deslocados, resultado de nove anos de graves conflitos armados, na Venezuela já são mais de 5 milhões de pessoas que precisaram deixar seu país de origem para trás por conta de uma crise política, econômica e social.
É neste conflito, já considerado o maior conflito migratório da história do Hemisfério Ocidental, que atua o Refúgio 343, organização humanitária dedicada à interiorização e reinserção socioeconômica de famílias de refugiados venezuelanos no Brasil.
Nesse post você vai ler:
A situação na Venezuela
Disputas políticas geraram uma crise econômica sem precedentes na Venezuela. De maio de 2019 a maio de 2020, a inflação acumulada do país foi de 3684%. Para comparação, o índice brasileiro para o mesmo período foi de 1,88%.
Como consequência, 80% da população venezuelana vive hoje em situação de extrema pobreza. Não há acesso a direitos básicos, como saúde, educação e alimentação. O salário mínimo está em 800 mil bolívares, o equivalente a cerca de US$ 4 ou R$ 20. Com essa quantia, é possível comprar por lá apenas uma caixa de ovo e 100 gramas de queijo.
Como alimentar uma família nestas condições? Pais e mães chegam a ter mais do que um trabalho e, ainda assim, não conseguem garantir comida aos seus filhos todos os dias. Cenas de aglomeração para pegar restos de alimentos no lixo são cada vez mais comuns. E muito tristes! Para essas pessoas, migrar de seu país passou a ser a única opção.
O reflexo da crise da Venezuela no Brasil
O Brasil é o quinto país para onde a população venezuelana mais migra, por conta de sua proximidade geográfica e do custo da viagem – apesar do idioma diferente ser um desafio.
Já recebemos mais de 264 mil venezuelanos, que em sua maioria entram no nosso país pelo município de Pacaraima, em Roraima, que faz fronteira com a cidade venezuelana de Santa Elena de Uairén.
O fluxo migratório é controlado pela Operação Acolhida, Força-Tarefa Humanitária das Forças Armadas Brasileiras, que atua no ordenamento da fronteira, no abrigamento desses imigrantes e refugiados e no seu deslocamento, uma vez que Roraima não consegue absorver todo o fluxo migratório.
Atualmente, existem 13 abrigos no Estado – 11 na capital, Boa Vista, e 2 em Pacaraima –, que juntos possuem capacidade para assistir cerca de 6,5 mil pessoas. Como não há vagas para todos, milhares de venezuelanos acabam nas ruas, na rodoviária de Boa Vista, em ocupações espontâneas ou ainda em quartos alugados, que são compartilhados por cerca de 10 a 20 pessoas, de forma insustentável, para conseguirem pagar pelo espaço.
O trabalho do Refúgio 343
Em meio a este cenário de crise, atua a organização humanitária Refúgio 343. A entidade desenvolveu um modelo de reinserção socioeconômica emergencial, que garante que os refugiados venezuelanos que hoje estão em Roraima possam se reintegrar à sociedade em, no máximo, seis meses, em qualquer cidade brasileira.
O modelo é baseado em três pilares fundamentais – Emprego, Saúde e Educação – e replicado por empresas e pessoas da sociedade civil de todo o Brasil, chamadas pela entidade de “acolhedores”, que com todo o suporte do Refúgio 343 se comprometem a liderar a reinserção socioeconômica dessas famílias.
O trabalho da organização já resultou na interiorização de 186 famílias (562 refugiados venezuelanos), que agora recomeçam suas vidas em 74 cidades de 13 Estados brasileiros.
Um sonho que movimenta
O Refúgio 343 nasceu, literalmente, de um sonho. “Em outubro de 2018, comecei a ter sonhos frequentes com uma menina que não conhecia. Até que um dia vi a foto dela em uma reportagem que falava sobre a crise migratória na Venezuela. Neste momento, senti que deveria fazer algo para ajudar”, conta Fernando Rangel, idealizador e diretor executivo do Refúgio 343.
Junto com sua companheira, Laura Fatio, e um de seus melhores amigos, Guilherme Sperandio, Fernando reuniu um grupo de voluntários para dar início ao trabalho. O primeiro sonho era pegar um avião para Roraima e interiorizar uma família de refugiados venezuelanos para sua cidade, São Paulo.
Hector, Tajiris e seus dois filhos foram os primeiros acolhidos pelo grupo na capital paulista, em uma casa de número 343, em junho de 2019, Mês Mundial do Refugiado. Quatro meses depois, a família já estava reinserida socioeconomicamente: crianças na escola e adultos empregados, responsáveis por todas as suas despesas.
“Vimos uma realidade tão triste no norte do país e, ao mesmo tempo, foi tão simples interiorizar e ajudar uma família que não poderíamos guardar esse modelo de reinserção só para a gente. Ao compartilhar um sonho individual, passamos a sonhar coletivamente e estamos mudando a realidade dos refugiados venezuelanos no Brasil”, comemora Rangel.
Faça parte do Refúgio 343 e ajude nessa causa
Ser um viajante consciente é nada mais do que trazer consciência humanitária ao seu dia a dia. Se você está viajando ou planeja uma viagem para breve, procure conhecer mais sobre a história do local.
Para além de experiências incríveis, busque de alguma forma gerar impacto positivo na região, até como uma forma de agradecimento pelos bons momentos. Que tal, por exemplo, reservar um dia da sua viagem para alguma ação de voluntariado que atenda a uma necessidade local?
Fica também o convite para se envolver com a causa do Refúgio 343. É possível ajudar, de qualquer lugar do mundo e sem sair de casa, sendo um sócio da organização, por meio de contribuições mensais a partir de R$ 30, que são investidas para acelerar o trabalho de interiorização de famílias de refugiados venezuelanos no Brasil.
É possível ainda ser acolhedor voluntário de uma dessas famílias, assumindo o compromisso de recebê-la em sua cidade e apoiá-la por seis meses no seu processo de reinserção socioeconômica, com todo o suporte do Refúgio 343.
Pra qualquer viajante refletir
Eu (Mary) conheci o Refúgio 343 em maio de 2020 e me tornei sócia no mesmo dia. Com tudo que tá rolando em 2020 eu não podia doar muito, mas podia doar alguma coisa (R$1,00 por dia não faria diferença na minha renda, mas faria a diferença na vida de várias de famílias).
Quando as coisas melhorarem financeiramente pra mim, pretendo aumentar o valor da minha doação mensal, que chega no meu e-mail através de boleto de forma simples.
Eu estou contando isso porque muitas pessoas acham que nem vale a pena doar R$ 30,00 por mês porque não fará diferença nenhuma. No entanto, se 1.000 pessoas doarem os R$ 30,00 já faz bastante diferença, né?
Então, pense em como VOCÊ pode ajudar agora. Nós fazemos parte de um coletivo que fica mais forte na medida em que os seus indivíduos entendem sua importância no time.
Eu e Andrea fizemos um episódio no nosso podcast (@semeumochilaofalasse) explicando um pouco sobre a crise na Venezuela e as várias formas de ajudar. O Fernando do Refúgio 343 nos ajudou a perceber a gravidade da situação e as diferentes formas de ajudar esse cenário de crise na América Latina.
Quando falamos do ato de viajar assumimos, espontaneamente, que os resultados serão: experiências incríveis, lugares marcantes, memórias inesquecíveis, novos amigos, fotos lindas e muito aprendizados. Mas, já pararam pra pensar que o ato de viajar NÃO É PRAZEROSO pra todo mundo? ⠀
Assumimos que viajar é sempre positivo porque temos a opção de ESCOLHER fazer essas viagens ou não. Mas, será que o significado de viajar é o mesmo para as pessoas refugiadas?!
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Não tem como NÓS – enquanto viajantes por opção – não olharmos com empatia para a realidade de outros viajantes que, nesse caso, estão sendo forçados a viajar por conta da situação precária e desumana que se encontram nos seus países.
Para as pessoas refugiadas, viajar significa deixar pra trás suas histórias, suas vidas e as pessoas que amam. Significa continuar seguindo sem um destino certo, sem uma cama pra dormir e, principalmente, sem a possibilidade de voltar pra casa. ELAS NÃO TEM ESCOLHA.
A gente acha que refugiados vem da Síria e de países longe do Brasil, mas a maior crise humanitária da história está acontecendo do nosso lado, na Venezuela. Por isso, entre no site do Refúgio 343 pra saber mais sobre as formas de ajudar a crise na Venezuela.
Saiba mais sobre os projetos sociais que o Vida Mochileira apoia.
O Refúgio 343 é uma organização humanitária, dedicada à resposta do maior desafio migratório na história do hemisfério ocidental.
Resgatamos famílias venezuelanas refugiadas no Brasil, através do processo de interiorização.
Para saber mais, basta acessar o site da organização ou acompanhá-la em suas redes sociais: