
A parte mais difícil da viagem: dizer adeus
Muitos acham que a parte mais difícil da viagem é o planejamento, mas, vai por mim... A parte mais difícil da viagem é dizer adeus. Vem comigo que eu vou te contar mais sobre isso...RELATO ESCRITO POR BÁRBARA ARAÚJO
Você já passou pelo processo de escolher um destino, já aprendeu a arrumar suas malas e mesmo assim esqueceu coisas importantes para você, já passou pelas dificuldades logísticas de ir para um lugar bem afastado dos grandes centros, já perdeu o ônibus, já se perdeu, já se atrasou. Eu já passei por tudo isso e digo, isso não é a parte mais difícil da viagem. Para mim, e para muitos, a parte mais difícil da viagem é a hora de ir embora, a hora do adeus.
Antes do meu primeiro voluntariado de viagem li milhares de comentários de pessoas dizendo que não queriam ir embora e eu pensei: “Poxa, como assim? Tá trabalhando de graça e não quer ir embora?” Diversas vezes vi comentários de gente que foi voluntariar e decidiu por estender ou simplesmente não voltou. Dá pra acreditar? Pois é, só dá pra saber, quando você sente na pele, e sabe porquê? Vou te contar o motivo.
Nesse post você vai ler:
A parte “fácil” da viagem
Quando a gente sai para uma viagem mais longa ou um voluntariado, certamente buscamos algo. Eu sempre sonhei em viajar, em sair por aí, em conhecer o Brasil, o mundo. A princípio, eu me encantava pelas paisagens, pela natureza e era só isso que me fazia escolher um lugar, mas, viajando eu entendi que tem algo a mais que te faz questionar sobre você, sobre a forma que você vive — as pessoas.
Eu fiquei muito feliz e maravilhada por encontrar pessoas que eram muito parecidas comigo, gente que queria viajar, que valorizava mais os momentos que os bens materiais, pois sempre me senti fora do lugar de onde sou, eu não me encaixava. Apesar de ter pessoas que eu admiro e respeito, não tinha alguém em quem eu me inspirasse pelo estilo de vida.
As redes sociais nos permitem seguir essas pessoas que admiramos, mas às viagens nos permitem conhecê-las e, acredite, é muito mais incrível. Você não conhece necessariamente as pessoas das redes sociais, mas você conhece pessoas que são o que você gostaria de ser e isso te permite aprender muito. Cada conversa é uma explosão de insights e de novos sonhos.
E você não conhece só pessoas muito parecidas com você, conhece pessoas completamente diferentes, com objetivos de vida distintos e você entende a diversidade que o mundo é, as pessoas que nele vivem, suas particularidades e peculiaridades, suas escolhas, seus modos de vida. Você também vai conhecer gente que você vai odiar, e você vai ver coisas que definitivamente não concorda, mas você vai aprender a respeitar. E, às vezes, você vai poder deixar sua marca, com uma palavra, com uma ideia, com uma atitude, você pode mudar algo.
O conselho de uma viajante
Minha dica é, liberte-se do julgamento, ou pelo menos não tenha medo de mudar de ideia, ao chegar no seu destino você vai conhecer pessoas que, como você e eu, tem defeitos e qualidades, mas a gente tem mania de julgar pela aparência “aquele ali parece mal-humorado, aquela é good vibes demais, aquele é grosso, aquele ali é perfeito”.
E as pessoas não seguem esses rótulos que a gente dá à elas, a pessoa que você mais gostou de cara pode ser a que você menos vai gostar depois, e a pessoa que você menos gostou pode ser seu melhor amigo na viagem. Você vai conviver com pessoas, e essa convivência vai te mostrar um pouquinho de quem são. E você pode tentar aprender lições com todos, se você estiver disposto, até de quem você não gostou. Mantenha sua mente aberta e seu coração mais ainda.
Você pode chegar em uma cidade e ter a sensação de que encontrou o seu lugar no mundo (e pode mesmo ter encontrado), caminhar nas ruas, admirar a arquitetura, sentir a natureza, amar as pessoas. E com algumas dessas pessoas que você topa por aí você vai criar laços, você vai ter uma conexão maior, seja essa uma amizade, um relacionamento romântico, uma irmandade. Vai ter gente que parece que você conhece desde criança. E você se apega, e algumas dessas pessoas estão de passagem, e você está de passagem. Outras não tem intenção de partir, é lá que vão ficar, é dali que fazem parte.
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A parte mais difícil da viagem
Você pode se apegar aquela casinha no meio da floresta com a calmaria, você pode se apegar a vista do mar, ou aquela badalação de um hostel no centro com gente chegando e partindo o tempo todo, depende de como você está.
Em um dos meus voluntariados eu conheci uma senhora, ela não tinha filhos e me tratou como uma, me contou as histórias de vida, compartilhou muitas dores e alegrias, lembro-me que ela fez meu bolo favorito quando eu disse que estava com saudade de casa, e isso encheu meu coração de alegria.
Como uma pessoa que eu tinha conhecido a pouco menos de duas semanas se importava tanto? E quando você se apaixona e começa um romance? Acredite, tudo em viagem é mais intenso, 1 mês parece um ano, e você vive aventuras incríveis.
E, às vezes, você se apega aos amigos, aquele match perfeito com um grupo de pessoas, quem está com você se torna sua família, e quando você pensa que não precisa se preocupar com o horário de voltar recebe mensagem de um amigo perguntando se tá tudo bem e se não vai dormir “em casa”, e você nem fica chateado porque é bom, é ótimo sentir que não está sozinho. Os laços estão feitos, às amizades são reais, é tudo real.
Então, você percebe que está chegando a hora de partir, e vai ter que deixar aquele lugar, aquelas pessoas, aqueles animais de estimação, aquela vista, aquele cantinho que você chamou de casa. E então começa a pensar nas opções: eu preciso mesmo ir? Posso estender a viagem? E se eu ficasse morando aqui?
Um turbilhão de ideias vai passar na cabeça, o coração vai apertar… E você vai precisar decidir, ir ou ficar? Dizer adeus, seguir viagem, voltar pra casa, ter um relacionamento à distância, viajar juntos… São tantas opções.
A notícia boa
A notícia boa é que seus planos podem mudar, você não é obrigado a seguir um roteiro, você pode mudar a rota, adaptar ao que você acha que precisa naquele momento, você pode ficar mais ou ficar menos, você pode manter relações ou pode cortá-las, mas você precisa fazer uma escolha. E a partir do momento que você decide ir embora você tem que lidar com a dor da despedida, do adeus. E, por isso, essa é a parte mais difícil da viagem.
Pra algumas pessoas é simples, mas pra outras é mais pesado. Tem uma música da banda ‘O Teatro Mágico’ que diz “se vou pra frente, coisas ficam para trás, a gente só nunca sabe que coisas são essas”. Então, você tem que saber que vai ficar muita coisa pra trás, mas ao mesmo tempo que você deixa coisas para trás, você abre oportunidade para muita coisa nova e boa para viver, há muito o que se conhecer, sentir e ver.
E você pode voltar, e pode decidir seguir com alguém, ou você pode dar tchau, sentir aquele momento, abraçar como se fosse a última vez (às vezes nem é, às vezes é mesmo) e seguir viagem, pegar a estrada e descobrir que esse ciclo de encontros e desencontros continua, afinal é a vida. Não posso dizer que fica mais fácil com o tempo, mas com certeza vale a pena, afinal, às histórias, memórias e sentimentos estarão sempre com você, aonde quer que você vá.
Sou a Bárbara Araújo, viajante, baiana, administradora especializada em Mindfulness e inteligências múltiplas. Apaixonada por natureza, yoga, meditação e por histórias de pessoas e lugares.
Instagram: @deluababi