O dia em que eu larguei tudo para viajar o mundo
RELATO ESCRITO POR MARIANA NEUBRA
Primeiramente vamos definir o que é “tudo”. Quando você tem 20 e alguns anos – não vou falar “vinte e poucos” pois eu já estava mais pra 30 – o “tudo” que você tem é bem diferente do “tudo” de alguém aos 30 ou 40.
Aos vinte e poucos o seu “tudo” é provavelmente 25% do “tudo” de uma pessoa aos 50. “Ain, mas eu já tenho uma carreira estabelecida, casa própria, blá, blá, blá…” Mesmo assim você está no início da jornada, bebê! Não faz a louca achando que já está na última fase do vídeo game. O jogo da vida é mais parecido com a “ponte do rio que cai” do Domingão do Faustão. Quando você acha que está quase lá, o universo lhe dá uma bolada e você cai de cara dentro d’água. #tragoverdades
Assim sendo, vou listar pra vocês o “tudo” que eu poderia “largar” aos meus 27 anos. Pronto, falei a idade no terceiro parágrafo, já somos íntimos.
Minha lista de tudo, Brasil, 2015:
1 emprego público
1 emprego privado
1 carreira autônoma
1 apartamento alugado
1 armário cheio de roupas
1 cozinha cheia de utensílios
1 coleção de móveis
1 coleção de eletrônicos
1 marido
1 família
1 cachorro
1 carro
Com esse “tudo” em mente podemos continuar esta bela anedota que tem mais reviravolta que uma novela mexicana.
No momento em que você pensa em abandonar a vida que leva para viajar o mundo você é forçado a escolher os “tudos” que vai largar, isso porque, pasmem, é IMPOSSÍVEL largar tudo.
Já sei, já sei…”mas eu li na internet a história de um casal que largou tudo e viajou de carro pelo mundo”. Então, tenho novidades: eles não largaram tudo.
Eles abriram mão de algumas coisas que não achavam essenciais para viver um sonho. Poderia ser qualquer sonho: abrir um quiosque na praia, andar de balão em Piracicaba, trabalhar em uma ONG no Tibet…mas, no caso deles, era viajar o mundo.
E para viajar o mundo eles não largaram tudo. Eles não largaram um ao outro. Eles não abriram mão de seu dinheiro. Eles não viajaram a pé. Eles inclusive compraram um baita carro, praticamente batmóvel adaptado para nômades, confere? Eles não largaram seus eletrônicos. Eles precisavam de câmeras e computadores e 245 cartões de memória para registrar tudo. Eles não abandonaram suas vidas. Eles SIMPLESMENTE criaram uma nova rotina. Uma rotina de planejamento, uma rotina na estrada, uma rotina que involve uma certa instabilidade e pasmem: muito trabalho. Assim, eles estabeleceram um novo “tudo”.
O que me causa ranço é ver pessoas e mídias vendendo essa ideia de “largou tudo para viajar o mundo” como se isso significasse abandonar suas responsabilidades e sair por aí tomando meus bons drinks e assistindo o pôr do sol em países diferentes.
Quem lê uma matéria dessa em seu horário de almoço logo pensa: eu trabalho de 9:00 às 17:00 e não viajo o mundo, automaticamente sou um bundão. Nem preciso dizer a frustração e ansiedade que isso gera em nós, meros mortais, né?
É justamente por isso que encasquetei de escrever este “textículo” e compartilhar a minha versão dos fatos.
Pois bem, vamos voltar ao meu “tudo”. Lá em 2015 eu concluí que, de toda aquela lista, os “tudos” que eu queria manter eram: minha família, meu boy e meu dinheiro. Mas, e o cachorro? Levá-lo pro mundo OU deixá-lo na casa da minha sogra correndo com duas outras cadelas por um quintal enorme muito melhor que o apartamento que a gente morava? Acho que vocês adivinharam a resposta. Toddy passa muito bem e continua na família.
E a família? Tá aí a parte mais difícil de sair do Brasil. De tempos em tempos damos os nossos pulos para estarmos com eles lá ou cá.
E o marido? O marido vai na mala pra onde eu for. Apesar de ele me perturbar bastante, é um amor antigo e confesso que viajar sozinha não é a minha praia. Gosto de ter alguém para ̶b̶a̶t̶e̶r̶ ̶m̶i̶n̶h̶a̶s̶ ̶f̶o̶t̶o̶s̶ conversar e passar os perrengues juntos. #tragoverdades
E os outros “tudos”? Esses sim eu larguei. Mas, aí adivinhem só o que aconteceu? Eu me mudei para a Irlanda e arrumei outros “tudos”.
Tudo o que eu arrumei na Irlanda, 2015:
1 visto temporário
1 emprego de 20h como recepcionista
1 curso de 20h
1 emprego em uma agência de tradução
1 emprego de intérprete freelancer
1 blog de viagem
1 marido
1 quarto alugado
12 novos países visitados
número desconhecido de roupas da Primark
Agora me respondam: em que universo isso é largar tudo? 😂 Eu acho que nunca tive tanta coisa pra fazer na vida! Sem contar as surpresinhas que você tem quando está se adaptando a um cultura completamente diferente. Para vocês terem ideia eu me mudei de casa cinco vezes em 2 anos e meio e tive épocas de trabalhar em 4 lugares diferentes simultaneamente.😳
Saiba mais sobre meu intercâmbio na Irlanda: www.viajantesincera.com
Mas não parou por aí… porque em 2017 eu resolvi “largar tudo na Irlanda para morar em Portugal”. Mais especificamente para empreender em Portugal. Que burra, dá zero pra ela!
Aí eu cheguei em Portugal e dessa vez enfiei o pé na jaca de vez. Minha rotina nunca esteve tão distante daquela famosa foto do viajante pé na areia trabalhando com seu MacBook em frente à uma praia paradisíaca.
Em Portugal eu aprendi o que é se apegar a tudo. A gente aprende a dar valor até a um brasileiro desconhecido no ponto do ônibus. É com ele que você vai dar boas risadas falando das coisas engraçadas que acontecem logo que você chega em Portugal. Você se apega ao que tem e principalmente a quem tem por perto. Em Portugal nada vem fácil, só as garrafas de vinho por 2 euros. 🍷 Um brinde a essa facilidade! Agora experimente largar tudo aqui em Portugal pra ver o que lhe acontece! 😂
Meus “tudos” em Portugal, 2019:
1 visto permanente
1 loja
1 equipe
17374 contas pra pagar
1 trabalho como guia freelancer em Lisboa
1 blog
1 marido
1 apartamento alugado
1 novo país visitado
Estudos indicam que em breve vou largar tudo de novo. 😂#socorro #sendhelp
Moral da história: se você está pensando em largar tudo, não repita isso em casa, é uma cilada, Bino.
Ao invés disso faça uma lista de tudo o que você tem hoje. Escolha tudo o que você quer manter e tudo o que você quer conquistar.
Planeje, trabalhe, revise, escreva, pense, repense, a̶s̶s̶i̶s̶t̶a̶ ̶N̶e̶t̶f̶l̶i̶x̶ ̶, fale com a família, jogue conversa fora com os amigos, estude, ouça os mais velhos, trabalhe mais, trabalhe de madrugada se for preciso. Se o seu sonho, assim como o meu, for viajar o mundo, é trabalhando e não largando tudo que você vai realizá-lo.
A vida é boa demais para querer largar tudo.
Um dos itens que está na minha lista de sonhos é ser criadora de conteúdo de viagens em tempo integral, igualzinho à Mary, do Vida Mochileira, não sei se vocês conhecem. 😂
Encontrei a Mary em Lisboa em um daqueles momentos em que você ama seu blog mas não sabe o que que é pra fazer com ele direito. 🤔 Em uma conversa rápida ela me encheu de inspiração, me estimulou a não desistir e seguir na “blogueiragem”. Ter um blog de viagem não é brinquedo, não!
Ela me me ajudou também abrindo esse espaço para que eu pudesse escrever pra vocês.
Falativa e inventadora de palavras. Amante de séries, história e comida. Amiga dos animais e das coisas que a natureza dá. Menos culta do que parece. Cismou com esse negócio de blog. Claramente não sabe escrever um parágrafo auto-descritivo.
Eu tenho um blog de viagens (www.viajantesincera.com) onde eu misturo viagem e humor porque só rindo dos perrengues, né não? O blog está cheio de artigos práticos e zueiros com roteiros, dicas de viagem e vida no exterior.
Como se não bastasse, ainda inventei de tagarelar no YouTube e nos Stories. Para ouvir minha voz de taquara rachada é só se inscrever no canal aqui e me seguir no Instagram aqui. Me segue que eu sigo de volta!
Um beijo, queridôncios! Mari, a.k.a. Viajante Sincera